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Sagrada para os povos do Alto do Xingu, a gruta é foco do projeto de preservação coordenado pelos indígenas Wauja

A gruta de Kamukuwaká abriga rituais e a história dos povos que vivem no Alto do Xingu, contada por meio de gravuras rupestres milenares. Na caverna, se entrelaçam natureza, narrativas e memórias. E, para protegê-la, o povo Wauja, guardião do local sagrado, deu início ao projeto de Registro e Conservação da Paisagem Cultural de Kamukuwaká, um dos 12 vencedores do 33º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade.

A proposta é preservar e valorizar esse patrimônio, por meio de iniciativas de documentação, extroversão e conscientização. São articuladas ações como a reconstituição digital da arte rupestre da gruta, que foi alvo de depredação em 2018 e teve boa parte dos seus grafismos quebrados. Também faz parte das ações a construção de uma réplica da gruta de Kamukuwaká em tamanho real, que atualmente está em Madri, além da produção de um livro e de articulações de conscientização da sociedade.

O trabalho é realizado em parceria com a Factum Foundation (FF), uma organização sem fins lucrativos situada na Espanha, com foco em documentação, estudo, recriação e divulgação do patrimônio cultural mundial, e que oferece as tecnologias necessárias para que os Wauja façam seus registros. O projeto também conta com a colaboração de historiadores, professores e gestores da comunidade Wauja, além de uma assessoria arqueológica, compondo, assim, uma equipe interétnica.

A gruta que conecta gerações

A gruta de Kamukuwaká é tombada como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2016, um pedido feito pelo povo Wauja ao Iphan. Está localizada no município de Paranatinga, no Mato Grosso, fora da área de demarcação indígena. A gruta fica dentro de uma área particular, numa fazenda às margens da cachoeira Salto, no rio Batovi, o que dificulta o acesso e conservação por parte dos povos indígenas.

“Queremos proteger a área da gruta, pois ela tem muito significado para a nossa cultura. A luta pela conservação do local quer garantir que as crianças e os jovens tenham acesso ao local, para que conheçam a origem das nossas pinturas, dos nossos conhecimentos, que existem lá”, explica o coordenador do projeto, Piratá Wauja, que também atua como secretário da Associação Indígena Tulukai, representante do povo Wauja.

“As pessoas precisam ver a origem daquilo, da cultura, do conhecimento. Não só a gente do Alto do Xingu, mas todos. O objetivo é que todo mundo tenha acesso a esse conhecimento que já existe há muitos anos, aqui na nossa comunidade”, destaca Piratá Wauja.

O Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade reconhece não apenas o trabalho de documentação e reconstituição da Gruta de Kamukuwaká, mas também a importância da iniciativa da comunidade Wauja na defesa de sua paisagem sagrada, que possui incalculável relevância ecológica e cultural. Ao mesmo tempo, inspira outras comunidades indígenas a iniciativas semelhantes, utilizando tecnologias modernas para valorizar suas culturas.

“O Prêmio fortalece mais a luta que estamos seguindo para proteger a região da gruta, então é muito importante para que a gente dê continuidade ao registro que estamos fazendo e todo mundo conheça nosso patrimônio, a nossa riqueza, que é a riqueza do Brasil.”
Coordenador do projeto, Piratá Wauja.

O guerreiro Kamukuwaká

A gruta é morada atemporal do grande guerreiro Kamukuwaká, líder ancestral que deixou como herança aos povos do Alto do Xingu o ritual da furação de orelha, que inicia jovens lideranças nas comunidades.

Segundo a narrativa dos povos indígenas, o local foi palco de confronto entre Kamukuwaká e o inimigo Kamo (o sol), que o atacava por invejar sua força e beleza. Kamo fez com que a casa de Kamukuwaká virasse pedra, tentando agredí-lo. No entanto, pássaros abriram um buraco no teto da rocha, ajudando o guerreiro a fugir para o céu junto com sua família e livrando-o da armadilha.

A Gruta de Kamukuwaká é sagrada para as 11 etnias do Xingu. Os desenhos rupestres, vandalizados em 2018, eram utilizados para ensinar às crianças sobre as suas origens e cultura. Para os Wauja, alguns dos grafismos também representam a fecundidade feminina, pois acreditam que as mulheres têm o poder de aumentar a fertilidade de tudo o que é vivo.

Os símbolos desenhados na gruta também inspiram as decorações das cerâmicas e cestaria, as pinturas corporais e também as músicas que embalam os rituais de apaziguamento dos espíritos da natureza.

Assista ao depoimento de Piratá Waurá:

Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

A ação “Registro de Conservação da Paisagem Cultural de Kamukuwaká” foi vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2020, na categoria “Patrimônio Material”, segmento “Cooperativas, associações formalizadas ou redes e coletivos não formalizados”. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Este ano, foram escolhidos 12 projetos vencedores. Cada iniciativa recebe uma premiação de R$ 20 mil.

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