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10.10.2018 – 10:00

Jogos, brinquedos, brincadeiras. Muito além de um passatempo, as expressões lúdicas podem ser consideradas manifestações culturais e artísticas. Apresentam simbolismos e representam diferentes grupos sociais e étnicos e a realidade de diferentes infâncias. Para o Ministério da Cultura (MinC), brincadeira é coisa séria, é ferramenta de promoção do desenvolvimento infantil. E é reforçando a importância do brincar que a Pasta contribui para o Programa Criança Feliz, do governo federal. O programa, de caráter intersetorial, promove o desenvolvimento integral das crianças na primeira infância.

Um verdadeiro tesouro está escondido nas brincadeiras praticadas e difundidas nas culturas populares e tradicionais brasileiras e o MinC está documentando essa riqueza. Para tornar essas tradições disponíveis e à mostra para qualquer cidadão, o Ministério está percorrendo algumas regiões do Brasil para documentar a ludicidade presente no País. Esse documento irá subsidiar a elaboração de uma publicação do Programa Criança Feliz referente à infância, ludicidade, cultura, diversidade e território. Com esse documento em mãos, profissionais que atuam no programa serão capacitados e, por sua vez, irão difundir os benefícios da brincadeira.

É nos primeiros anos de vida, especialmente do nascimento até os três anos (a fase também denominada primeiríssima infância), que se estabelecem as bases do desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social da criança. E a primeira infância, que segue até os seis anos, tem sido considerada a fase mais importante do desenvolvimento humano. Por estar em uma etapa que ainda não possui a capacidade de abstração totalmente desenvolvida, a criança necessita de uma ferramenta concreta para seu aprendizado e interações – e é aqui que entra a ludicidade. Atenção, concentração, raciocínio lógico, memória, linguagem, regras, colaboração e confiança são alguns dos aspectos colocados em prática e desenvolvidos por meio de jogos e brincadeiras.

Segundo a secretária da Diversidade Cultural do MinC, Magali Moura, o Ministério está cada vez mais ciente dessa relevância e pretende promover o resgate das brincadeiras infantis nas comunidades, a partir da atuação no programa do governo federal. “A infância deve ser vista como a fundação do cidadão brasileiro. Vamos atuar repassando informações que possam beneficiar o desenvolvimento da criança por meio do brincar. Estamos fortalecendo as políticas públicas voltadas à infância”, afirma Magali. O público prioritário do Criança Feliz são as gestantes e crianças de até três anos de idade beneficiárias do Programa Bolsa Família, crianças de até seis anos que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e crianças afastadas do convívio familiar por medida protetiva (crianças abrigadas). Atualmente, mais de 2.700 municípios brasileiros já aderiram ao programa.

O Ministério da Cultura ainda vai articular estruturas físicas como os Pontos de Cultura e os Centros de Artes e Esportes Unificados (CEUs) para formação de profissionais envolvidos no programa. Entre outras atribuições do MinC no Criança Feliz, estão: fortalecer o empoderamento cultural da criança, promovendo estimulação criativa no contato com a diversidade cultural de seu território e dos vínculos afetivos e interpessoais; e assegurar às crianças o direito de acesso à transmissão das crenças e culturas familiares.

 

 

Da televisão ao arco e flecha

Em visita ao município Ronda Alta, no Rio Grande do Sul, representante do MinC constatou que crianças indígenas estão trocando brinquedos e brincadeiras tradicionais por jogos eletrônicos e televisão. Além da questão da ludicidade, as crianças já encontram dificuldade em se identificar com sua etnia, a Kaingang – uma das três principais do estado, ao lado da Guarani e Charrua. Também praticam a língua materna na escola (por ser componente curricular) com resistência, já que as crianças crescem falando português.

A partir dessa realidade local, o Ministério da Cultura já reforça o resgate de jogos, brincadeiras tradicionais e demais aspectos culturais da etnia Kaingang, como estudo dos grafismos e marcas culturais, além da história do artesanato – especialmente a cestaria. A ação ocorre por meio do Centro Cultural Kanhgág Jãre, o primeiro Ponto de Cultura indígena do País, que já recebeu R$ 75,7 mil em investimento do MinC, por meio de convênio. Entre as brincadeiras tradicionais resgatadas pelo ponto de cultura estão o arco e flecha e o tiro ao alvo com zarabatana. Os Pontos de Cultura são grupos, coletivos e entidades de natureza ou finalidade cultural que desenvolvem e articulam atividades culturais em suas comunidades e em redes, reconhecidos e certificados pelo MinC por meio dos instrumentos da Política Nacional de Cultura Viva.

 

 

Conheça brincadeiras tradicionais indígenas

Criança indígena brinca de “Bola ao cesto” (Foto: Divulgação MinC)

 

Arco e flecha

Construídos pelas crianças, o arco e flecha são utilizados em jogos que utilizam alvo, ou encenação de caça.

 

Tiro ao alvo com zarabatana

A criança recebe uma zarabatana (antigamente cada criança construía a sua) e deve tentar acertar os “alvos” com sementes, derrubando-os. Os alvos são animais, como tatu e macaco, desenhados em papel e colados em isopor.

 

Bola ao cesto

As crianças ficam sentadas e um cesto é colocado em uma determinada distância que não seja tão longe. Uma bola é entregue para a criança, que é incentivada a arremessar para acertar dentro do cesto.

 

O tigre e a lebre

Dois jogadores dão-se as mãos formando a “toca” e o terceiro ficará entre eles e será a “lebre”. Do lado de fora ficam as lebres perdidas, crianças que ficaram “sobrando”, sem toca. A um comando, as tocas levantam os braços e todas as lebres devem ocupar uma nova toca. Quem não conseguir entrar fica no centro, esperando nova oportunidade. O elemento que confere ainda mais animação à brincadeira é o “tigre”, que age como caçador. Nesse caso, apenas um participante fica de fora. Ele deverá perseguir os coelhinhos durante a troca de tocas. O primeiro a ser pego passará ao posto de “tigre”, depois realizam novas trocas, sucessivamente. É uma variação de outra brincadeira tradicional, chamada “Coelhinho sai da Toca”.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação / Ministério da Cultura