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O projeto “Nossos Entes” colocou a imagem do vaqueiro em intervenções urbanas no Rio Grande do Norte

Homenagem aos Vaqueiros em Acari (RN) (Foto: Divulgação)

Antes de tudo, um forte. Foi assim que o escritor Euclides da Cunha descreveu o sertanejo, aquele que doma a dureza do sertão. Poucos representam essa imagem como o vaqueiro: tudo, desde a imponente indumentária de couro, que o protege do sol, até a destreza com que percorre a aridez do sertão, faz com que ele emane força.

O vaqueiro é o tema principal da ação Nossos entes – Vaqueiro tradicional nordestino, que tem como objetivo preservar a imagem desses atores por meio de intervenções urbanas, engajando a comunidade no processo.

Realização do retrato do vaqueiro (Foto: Divulgação)O projeto premiado começou em 2009 quando o idealizador, o fotógrafo Pablo Pinheiro, acompanhou a Pega de Boi no Mato, em Acari (RN). O contato com os vaqueiros se transformou em paixão, e, como não podia deixar de ser, em arte: deu origem à exposição de retratos Fragmentos de uma Tradição – vaqueiros tradicionais do Seridó, com edições em 2011 e 2013.

Segundo Pablo, essa imersão na cultura sertaneja foi mais do que um projeto, mas uma experiência de autoconhecimento. “Estive diante de algo desconhecido fisicamente, conscientemente, mas me sentindo em casa no meu próprio interior. Era uma sensação de dentro de mim para fora. Foi um desses momentos de um grande estalo”, relembra.

Com o tempo, os cliques adquiriram vida própria, ultrapassando as barreiras da contemplação. A evolução se tornou evidente quando um dos vaqueiros envolvidos pediu um retrato para servir de lembrança para a sua família. Nesse momento, surgiu a ideia de convertê-los em entes, representantes da cultura, dos saberes e da identidade dos sertanejos. “É da imagem deles que estamos falando aqui. A imagem ganha vida, encontra um método, dialoga e assume um espaço de troca”, explica o idealizador.

Dos vaqueiros aos guardiões

Entes aplicados em muro de escola (Foto: Divulgação)

Os retratos desses atores foram espalhados pela cidade por meio da técnica do lambe-lambe. Em uma conta do Instagram, as imagens eram exibidas, e, os cidadãos, convidados a se tornarem seus guardiões. Os que aceitavam a missão conservavam a peça até que elas fossem desgastadas naturalmente pelas intempéries.Após se converterem em entes, os vaqueiros transbordaram o sertão: foram para a cidade grande. E mais, tornaram-se elos de conexão com a comunidade de Natal (RN), em uma realidade muito distinta daquela experimentada no sertão.

A ação mostrou-se plenamente capaz de mobilizar a sociedade: indivíduos e instituições voluntariaram-se para atuar como guardiãs, inclusive escolas. No caso das instituições de ensino, as figuras foram usadas até mesmo como suporte didático para as atividades dos estudantes.

“[A premiação] Ajuda a continuar alguma ação, alguma ideia, algum sonho ou simplesmente empurra aquela necessidade, que vem de dentro, de produzir algo para fora. E nesse ofício, de criar e produzir algo, o desafio de ficarmos em pé é constante.”
Pablo Pinheiro, idealizador da ação.

A jornada Brasil afora

A ação “Nossos Entes” se propôs a divulgar a imagem desses atores, mas fez mais do que isso. O projeto foi capaz de repensar o próprio espaço da cidade e a relação da população urbana com os vaqueiros. “Como será a relação que o guardião estabeleceu com a sua imagem? Basta pensar nisso para compreender que ainda falta muita coisa a ser trabalhada sobre o desdobramento de cada movimento do projeto criado”, provoca Pablo.

Entrega do retrato do vaqueiro Zé Leite ao Museu do Sertanejo (Foto: Divulgação).Além de levar os sertanejos ao meio urbano, as figuras viajaram Brasil afora. Os retratos foram expostos nos estados do Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro. Museus exibiram as figuras. À medida que o tempo desgastava as figuras, prefeitos e moradores pediam que elas fossem reinstaladas.

E isso é só o começo: para o responsável pela ação, o futuro do projeto é agora. “Estou conseguindo colocar para fora uma outra possibilidade de compartilhar essa imagem com as pessoas e seus lares. Uma forma que possibilita perceber a imagem navegando em um outro suporte, diferente de todos que foram feitos até agora, mas que segue no sentido de construir, montar, uma memória de afetos com a figura”, planeja Pablo.

Conheça os vaqueiros e o idealizador do projeto:

*Fotos: Projeto Nossos Entes – Pablo Pinheiro

Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

A ação “Nossos entes – Vaqueiro tradicional nordestino” foi vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2020, na categoria “Patrimônio Imaterial”, segmento “Fundações ou empresas privadas (exceto MEI)”. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Este ano, foram escolhidos 12 projetos vencedores. Cada iniciativa recebe uma premiação de R$ 20 mil.

Assessoria de Comunicação Iphan

Taís Arruda – .
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