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21.9.2018 – 9:41

Nesta quarta e quinta-feira (19 e 20), o Brasil ganhou seis novos patrimônios culturais. Em reunião no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, por unanimidade, os registros da literatura de cordel, da Procissão do Senhor dos Passos, em Florianópolis (SC), e do Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira (SP) e os tombamentos do Acervo Arthur Bispo do Rosário e dos terreiros de candomblé Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão, em Recife (PE), e Tumba Junsara, em Salvador (BA).

Apesar de ter começado no Norte e no Nordeste do país,a literatura de cordel hoje é disseminada por todo o Brasil (Foto: Divulgação)

 

Apesar de ter começado no Norte e no Nordeste do país, a literatura de cordel hoje é disseminada por todo o Brasil, principalmente por causa do processo de migração de populações. Em todo o país, é possível encontrar esta expressão cultural, que revela o imaginário coletivo, a memória social e o ponto de vista dos poetas sobre acontecimentos vividos ou imaginados. O cordel no Brasil é o resultado de uma série de práticas culturais em que os cantos e os contos constituem as matrizes para uma série de formas de expressão. Na formação da cultura brasileira, da qual a literatura de cordel faz parte, tanto indígenas quanto africanos e portugueses adicionaram práticas de transmissão oral de suas cosmologias, de seus contos e de suas canções.

 

A Cama Romeu e Julieta é uma das 805 peças de Bispo do Rosário tombadas pelo Iphan (Foto: Divulgação)

O tombamento do acervo do sergipano Arthur Bispo do Rosário dá destaque ao misterioso artista. Rosário ganhou destaque no universo da arte contemporânea sem querer. Seguindo as vozes que o ordenavam a reconstruir o mundo, deu início a suas obras, produzidas sem o propósito de serem consideradas culturais e que geraram debates sobre os limites entre a arte e a loucura. A coleção principal é formada por 805 peças, entre elas estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos (recobertos com fio azul ou não) e vagões de espera. O acervo é composto por peças elaboradas em diversos materiais, como vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso e diversos itens recolhidos do lixo e da sucata.

 

A Procissão do Senhor dos Passos é realizada em Florianópolis (SC) há 250 anos e reúne atualmente cerca de 60 mil fiéis (Foto: Mara Freire/Acervo Iphan)

Procissão do Senhor dos Passos, da Igreja Católica, é realizada em Florianópolis (SC) há 250 anos e reúne em média 60 mil fiéis. Com duração de uma semana, sempre 15 dias antes da Páscoa, a celebração é marcada por momentos simbólicos, entre eles a Procissão do Encontro, o ápice ritual que encena a Paixão de Cristo e tem como momento máximo o sermão que marca o encontro entre o Cristo e sua mãe, na quarta estação da Via Crucis. A história da Procissão tem início com a chegada da imagem à cidade, então vila de Nossa Senhora do Desterro, em 1764.

 

Mais Patrimônios

 

Desde o período colonial, o rio Ribeira do Iguape viu o cultivo de mandioca, milho, feijão e arroz tornar-se o eixo estruturante do modo de vida de comunidades quilombolas (Foto: Divulgação)

 

Desde o período colonial, o rio Ribeira do Iguape, no estado de São Paulo, viu o cultivo de mandioca, milho, feijão e arroz tornar-se o eixo estruturante do modo de vida de comunidades quilombolas que se instalaram nas suas margens. Esse modo de fazer roça e os bens culturais a ele associados integram o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira. Entre o apogeu e a decadência da exploração do ouro, foi a agricultura de subsistência que permitiu a permanência dos grupos afrodescendentes nos vales e montanhas da região. Muito além de uma atividade econômica, o plantar e colher estabeleceu as trocas com a natureza, os laços de parentesco e compadrio, a fabricação de materiais para o uso diário, a expressão do divino e as manifestações religiosas, de música e dança, transmitidos entre as sucessivas gerações que ali moraram.

 

 

 

Um dos primeiros terreiros de Xangô em Pernambuco foi o Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão. A casa possui uma relevância histórica para compreensão das religiões de matrizes africanas no Brasil. O nome é homenagem a um de seus sacerdotes: Pai Adão, um dos maiores propagadores do nagô pelo Recife, que ajudou a fundar outros terreiros e tornou-se referência na cidade. Em função disso, Pai Adão gozava de grande estima e respeito da parte dos intelectuais que pesquisavam sobre os Xangôs de Pernambuco.

Legado, resistência e religiosidade compõem a essência do Terreiro Tumba Junsara, em Salvador (BA), que está entre os mais antigos de tradição Angola no Brasil. Fundado em 1919 pelos irmãos Manoel Rodrigues e Ciriaco, o Terreiro de candomblé faz da milonga (mistura) um caminho para manter suas referências culturais. Uma característica da Nação Angola, por exemplo, é a presença de um culto específico em reverência aos ancestrais indígenas. O tombamento dos dois terreiros será avaliado na quinta-feira.

Os terreiros Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão (esquerda) e Tumba Junsara (direita) foram tombados como patrimônio cultural material do Brasil (Fotos: Iphan)

 

 Sobre o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é o órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), para as questões relativas ao patrimônio material e imaterial. São 26 conselheiros que representam os ministérios da Educação, das Cidades, do Turismo e do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

 

Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) / Ministério da Cultura