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13.8.2018 – 19:35

Em meio à celebração de 88º aniversário, o Museu Casa de Rui Barbosa recebeu nesta segunda (13) o III Encontro Brasileiro de Museus Casa, que apresentou experiências e discutiu a importância do setor.

Realizado na Casa de Rui Barbosa, o III Encontro Brasileiro de Museus Casa apresentou experiências e discutiu a importância do setor (foto: Ronaldo Caldas/MinC)

O evento teve início com uma apresentação da Diretora do Centro de Memória e Informação da Casa, Ana Lígia Medeiros, que destacou a importância da preservação do equipamento, tombado como patrimônio histórico nacional há 80 anos. “É a origem e a joia preciosa que temos na instituição. Além disso, a Casa de Rui Barbosa traz um pioneirismo em preservação”, avaliou.

Pela manhã, o encontro teve palestra magna da professora Tereza Schreiner (PPG-PMUS/UNIRIO-MAST), com o título: “Modelos conceituais da Museologia, um olhar sobre os Museus Casa”. A pesquisadora detalhou o conceito de museu tradicional e apontou a importância da pesquisa sobre os museus.

“Se não houver pesquisa, não há museu. Será apenas um cenário. Para além dos aspectos conceituais e técnicos, é fundamental lembrar a importância da dimensão afetiva – pois é sobre os afetos que verdadeiramente se constitui um museu como lugar de encontros”, avalia Tereza Schreiner.

Na programação da tarde, o professor Mário Chagas, do Museu da República e do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), destacou a construção de personagens em torno do personagem principal, Rui Barbosa, como sua esposa Maria Augusta e seus filhos. Para o pesquisador, conhecer a trajetória pessoal de Rui Barbosa propicia melhor entendimento de sua personalidade histórica.

 

Histórico do evento

A Fundação Casa de Rui Barbosa foi pioneira em reunir os museus casa do país. A cada dois anos o evento é internacional, contando com a participação de museus casa, e desde 1995 incentiva a discussão sobre esse modelo conceitual por meio de seminários, encontros e jornadas sobre o tema. A criação, ainda na década de 1990, dentro do Conselho Internacional de Museus – ICOM, de um comitê específico para o estudo das casas históricas, o Comité International de Demeures Historiques-Musées (DEMHIST) fomentou ainda mais esse debate. Ao longo dos anos diversos eventos foram realizados, abordando múltiplos aspectos, tais como Educação; Conservação; Pesquisa; Documentação; Expografia e Acessibilidade.

 

Histórico da Casa de Rui Barbosa

A Casa de Rui Barbosa é, provavelmente, a mais antiga construção remanescente da primeira ocupação do bairro de Botafogo. O terreno fazia parte da fazenda do padre Clemente Martins – que deu origem ao nome da rua onde fica localizada, a São Clemente. Bernardo Casimiro de Freitas, Barão da Lagoa, um rico comerciante português, comprou o terreno e construiu a casa, terminando-a no ano de 1850. A construção está instalada em meio a um jardim histórico, com elementos românticos, entre caramanchões, pontes, lago em forma de rio, cascatas e quiosques. Com mais de 9.000m², é uma importante área verde para o bairro, recebendo seus moradores, diariamente, que buscam momentos de reflexão e de lazer. Mangueira, jabuticabeiras, parreiras, pitangueiras, fruta-pão, roseiras, magnólias, pérgulas, coreto, enfim, uma miragem parada no tempo e no espaço da cidade.

Mais tarde, o comerciante português Albino de Oliveira Guimarães adquiriu o imóvel e, anos depois, vendeu-o ao inglês John Roscoe Allen. Este, por sua vez, vendeu a Rui Barbosa em 1893. A família de Rui só o ocupou dois anos depois, ao voltar da Inglaterra, onde se exilara por motivos políticos.

Na ocasião, Rui tinha 46 anos. Estava casado havia 19 anos com D. Maria Augusta e tinha cinco filhos, dos quais Maria Luiza Vitória, a caçula, nascera em Londres. Em homenagem à sua mulher, Rui batizou de “Vila Maria Augusta” a casa da Rua São Clemente 104 (hoje 134) e nela viveu até morrer, em 1923, aos 73 anos de idade.

A casa já contava com água encanada, quente e fria, quando Rui a comprou. Durante os 28 anos em que a família residiu na casa, ela foi recebendo melhorias que denotam também os progressos tecnológicos do período: o sistema de iluminação foi adaptado para utilização de luz elétrica, em substituição ao gás domiciliar – Rui manteve em alguns cômodos os bicos de gás – e possuía telefone.

Em 1924, um ano após a morte de Rui Barbosa, o governo comprou o prédio, inclusive a biblioteca e o arquivo de Rui. Quatro anos mais tarde, adquiriria também o mobiliário. Em 13 de agosto de 1930 o presidente Washington Luís inaugurava-a como o primeiro museu casa do Brasil, homenageando seu antigo líder político. O local abriga a memória da vida privada e pública de Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923), jornalista, jurista, político, diplomata e um exímio orador. Atuou como deputado, senador, candidato à Presidência da República, participou de todas as grandes questões políticas e sociais da época, coautor da Constituição da Primeira República, e foi presidente da Academia Brasileira de Letras substituindo Machado de Assis.

Na ocasião, cada um dos aposentos ganhou um nome, rememorando passagens significativas de seu patrono. Internamente, o local é um convite à história do Brasil, a começar pelo nome dos ambientes, que representa cada momento marcante na vida pública de Rui Barbosa. Lá, visitamos a “Sala Casamento Civil”, que ganhou o nome em razão da atuação de Rui pela obrigatoriedade do casamento civil; a “Sala Bahia”, em homenagem ao Estado onde nasceu; a “Sala Questão Religiosa”, que apresenta o interesse de Rui por este assunto; a “Sala Maria Augusta”, em homenagem à sua esposa, com quem foi casado por 46 anos; a “Sala Constituição”, considerado o ambiente mais importante da Casa por ser a biblioteca de Rui Barbosa, entre outras.

O acervo que pertenceu a Rui Barbosa compreende, de sua imensa e preciosa biblioteca, mantida no local original, organizada ao longo de sua vida e reúne 37 mil volumes. Há livros sobre os mais variados ramos do conhecimento. A maioria das obras são jurídicas. Uma curiosidade é que Rui Barbosa possuía as legislações de todos os países, suas constituições, os códigos e as leis civis, comerciais, penais e processuais. Colecionava as obras dos maiores jurisconsultos dos séculos XIV ao XVII. Entre os exemplares, as Leis do Brasil (1808 a 1923), os Anais da Assembleia Constituinte (1823 e 1891), da Câmara (1826 a 1923) e do Senado (1826 a 1923).

O Arquivo documental de Rui Barbosa, pertencente ao Arquivo Histórico Institucional da Fundação Casa de Rui Barbosa, é um dos sete arquivos nominados como Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO. Além disso, são preservadas as peças de mobiliário, objetos decorativos e de uso pessoal, e ainda viaturas que compõem o conjunto do Museu.

Rui cuidava pessoalmente da decoração da casa, que demonstrava a forte influência europeia. Objetos e móveis trazidos das suas viagens somavam-se aos objetos adquiridos nos famosos magazines da cidade, como Mappin & Webb, Casa Leonardos e Loja América e China. A decoração interior traduz o ecletismo que dominou as artes no Brasil no final do século XIX e início do XX, como reflexo de uma sociedade em transformação.

Os ambientes do Museu permaneceram basicamente fiéis aos da casa, quando ocupada por seu último proprietário. As pinturas, lustres, tapetes e móveis oferecem ao visitante uma visão do que era, na época, a residência de uma família da classe média urbana em formação na sociedade brasileira.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação / Ministério da Cultura