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27.1.2015

Palavras do português que mudaram a grafia ao longo do tempo, costumes de uma sociedade ainda distante dos recursos da internet e um Rio de Janeiro muito diferente do atual. A realidade descrita nas obras de Machado de Assis (1839-1908) era outra, o que às vezes representa dificuldade de compreensão para muitos leitores do século 21. Foi justamente para tornar os contos e romances de um clássico da literatura em língua portuguesa mais acessíveis a leitores de hoje que a pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) Marta de Senna desenvolveu, desde 2008, o projeto “Edição dos Romances e Contos de Machado de Assis como Hipertexto”. Em dezembro, Senna concluiu a segunda e última etapa do projeto, relacionada aos contos, agora disponível gratuitamente na internet.

Graças a esse trabalho, toda a ficção de Machado de Assis está acessível a todos no portal www.machadodeassis.net, com direito a links explicativos das referências literárias e histórico-culturais. Também há anotações sobre lugares do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo referentes a lojas comerciais, cafés e teatros, por exemplo.

“O objetivo do projeto é levar Machado de Assis ao maior número de pessoas no Brasil e no mundo, mas tenho a consciência de que levar obras do século 19 ao leitor do século 21 demanda que o editor faça notas para que esse leitor possa se situar, não apenas com referências históricas e culturais, mas também de topografia, das ruas do Rio de Janeiro que os personagens percorrem, dos cafés e locais onde se hospedam… Procurei fazer esse estudo desde o primeiro romance, de 1858”, explica Marta de Senna.

Para isso, a idealizadora do projeto recorreu a enciclopédias, buscas na internet e livros com referências ao Rio de Janeiro antigo. Há cerca de 30 anos, desde que leciona na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marta de Senna estuda Machado de Assis. “Antes de fazer esse projeto, fiz banco de dados de citações e alusões históricas que constam na obra dele, estão disponíveis no site do programa também”, relata. “Tenho paixão pela literatura de Assis e procuro torná-lo o mais acessível, sem mexer no texto dele”, completa.

Embora tenha se dedicado tantos anos ao estudo desse autor, alguns fatos a surpreenderam. Citações de Machado de Assis em suas obras estão incorretas e atribuídas a outros autores que não os originais. Além das citações, os hiperlinks presentes permitem que o internauta passe o mouse, por exemplo, na Rua do Ouvidor e tenha explicação de onde ela se situa e o que tinha naquele local na época em que foi escrita a história. “A ideia é não apenas levar obra ao maior número de pessoas, mas fazer isso com qualidade e sem adulterar o texto original, usando notas explicativas e hiperlinks”, conclui.

Fonte: Assessoria de Comunicação/Ministério da Cultura