Você está aqui:

Pioneiro polo de turismo étnico no País, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, foi o local escolhido para sediar o primeiro projeto integrado de fomento às atividades turísticas da região. O projeto desenvolvido pelo Ministério da Cultura, por meio da Fundação Cultural Palmares (FCP), e pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) deverá transformar a Serra da Barriga em um núcleo de turismo afro da região, que inclui a cidade de Maceió, União dos Palmares e as comunidades quilombolas alagoanas. O projeto contará com a realização de visitas guiadas à Serra e aos ecossistemas da região. 

Para viabilizar o projeto, o presidente da Fundação Palmares, Erivaldo Oliveira e o vice-reitor da Uneal, Clébio Correia, assinaram, durante as celebrações do dia da Consciência Negra, no último dia 20, no próprio Parque Memorial, um termo de cooperação que definiu as atribuições de cada instituição no projeto. “O termo é uma espécie de protocolo de intenções. No início de 2017, será assinado o convênio que determinará questões orçamentárias e prazos de implantação do novo projeto. Até que seja formalizada, a proposta continuará a ser aprimorada por técnicos da Fundação Palmares e da Uneal. A expectativa é que entre os meses de abril e maio o projeto já esteja em funcionamento”, explicou Clébio.

Entre os planos da Palmares e da Uneal, está a criação de um programa de atividades permanentes na Serra da Barriga destinado a receber, por meio de um agendamento sistemático, a visita de todas as escolas públicas do estado. “O objetivo é que os alunos dessas instituições de ensino vivam um dia de imersão na cultura negra. Serão desenvolvidas ações voltadas para os estudantes e para a formação dos docentes”, disse o vice-reitor. A primeira etapa do projeto será concentrada na Serra da Barriga e no Parque Memorial Quilombo dos Palmares.

No projeto, está prevista a criação de uma feira permanente de artesanato, produzido pelas comunidades quilombolas de Alagoas. Atualmente, o Parque Memorial comercializa apenas peças enviadas pela comunidade do Quilombo do Muquém, também na Serra da Barriga.

Atividades contínuas

Por ter sido cenário de um dos maiores símbolos de resistência e luta contra a escravidão, o Quilombo dos Palmares foi transformado em Parque Memorial em 2007. De lá para cá, representantes de diversas entidades ligadas ao movimento negro de Alagoas e à própria Fundação Palmares vêm desenvolvendo o turismo da região. A assinatura do termo de cooperação e, posteriormente do convênio, deverá imprimir um novo ritmo às atividades já desenvolvidas na região.

Uma das figuras mais atuantes na elaboração de ações de fortalecimento do turismo étnico tanto em Maceió como na Serra da Barriga, a ialorixá Mãe Neide Oyá D’Oxum, mantém o Centro de Formação e Inclusão Social Inaê, voltado para crianças e jovens. O centro, fundado há 15 anos, trabalha com atividades culturais e profissionalizantes.

Mãe Neide Oyá D’Oxum (acima) e Filomena Félix são atuantes no fortalecimento do turismo étnico da região (Foto: Janine Moraes / Ascom MinC)

Na Serra da Barriga, Mãe Neide montou o restaurante Kùuku-Wàana (Banquete de Família) com a participação de jovens do projeto Inaê e com o apoio da Fundação Cultural Palmares e do governo de Alagoas, que recebe os visitantes do Parque Memorial Quilombo dos Palmares. “Na região, além do restaurante temos ainda o espaço cultural Baobá na entrada da Serra da Barriga, que reúne gastronomia, capoeira, música, dança e teatro. Graças ao nosso trabalho, conseguimos firmar um contrato com as agências de turismo WS e CVC. Ambas passaram a incluir o Parque Memorial Quilombo dos Palmares na lista de passeios turísticos de Alagoas. Todas as quartas-feiras, trabalhamos com turismo étnico e racial tanto na Serra como nas comunidades quilombolas, onde os nossos jovens vêm dar aulas de percussão, coreografia e outras modalidades artísticas”, afirmou.

Dentro do Centro de Formação, Mãe Neide desenvolve também um ateliê de costura, mantido pelos jovens, que já permitiu a criação de duas grifes, a Fala Preta e a Afro In – esta, propõe a mistura das culturas afro e indígena, em parceria com o Instituto Feminista Jarede Viana e a tribo indígena Wassu Cocal. “Abrimos uma loja na Pajuçara, um bairro nobre de Maceió, para vender as peças feitas pelos jovens. Nossa intenção é trazer esses produtos para Serra também”, enfatizou.

Na avaliação de Mãe Neide, o termo de cooperação assinado pela Palmares e pela Uneal irá contribuir muito aos esforços que estão sendo empreendidos há anos. “Mesmo com apoio restrito conseguimos, ao longo dos anos, estabelecer uma rota de turismo que agora irá crescer e se estruturar. No que depender da nossa comunidade, esse acordo irá ser um sucesso”, comemora a ialorixá.

Presidente do Conselho Estadual de Igualdade Racial (Conepir-AL), Valdeci Gomes, o turismo étnico era uma reivindicação antiga das pessoas do movimento negro desde a criação do parque, em 2007. “Lutávamos pelo desenvolvimento turístico da região não apenas para garantir a sustentabilidade do Memorial, que precisa ser conhecido pelos próprios brasileiros mas, sobretudo, para movimentar a cadeia econômica das comunidades quilombolas que têm potencial para crescer, estejam elas próximas ou não da Serra da Barriga”.

Valdeci acredita que ao serem inseridas em um projeto de turismo étnico, as comunidades quilombolas irão ampliar a produção de peças de artesanato. “A partir do momento em que haja um lugar de exposição permanente, as comunidades serão estimuladas a produzir. Os indígenas também poderiam trabalhar em conjunto com as comunidades negras”, ressaltou.

Integrante do Centro de Cultura de Estudos Étnicos Anajô, Filomena Félix é uma das entusiastas do turismo da região que, segundo ela, é motivo constante de debates. “Esse acordo é importantíssimo para assegurar o desenvolvimento étnico, para fomentar o crescimento da região não apenas no sentido do aprendizado a respeito da região, que precisa ter sua economia vitalizada. Turismo étnico não está relacionado apenas ao aspecto do conhecimento, mas também às questões econômicas. Vai gerar emprego e renda para muitas pessoas da região, que muitas vezes não têm opção de emprego”, alertou.

Palmares In Loco
Desenvolvido pela Anajô, o projeto Palmares In Loco, em funcionamento desde a abertura do Parque Memorial, organiza grupos semanais de visita à Serra da Barriga e ao Quilombo dos Palmares. “Este local não foi planejado para ser uma réplica do antigo quilombo e sim, um lugar de acolhimento, aparelhado com equipamentos especialmente criados para homenagear os líderes e os antepassados que viveram e morreram aqui. O Palmares In Loco levou à Serra da Barriga centenas de grupos como capoeiristas, estudantes, políticos, representantes de organismos internacionais ou mesmo famílias para conhecerem a história do nosso País”, destacou Helcias Pereira, coordenador do Palmares In Loco.

Durante a visita, grupos de turistas ou estudantes conhecem a história do Quilombo dos Palmares, os mocambos fixos, aspectos da geografia e participam de reflexões sobre o papel sócio-político e militar dos guerreiros quilombolas, como Zumbi, Dandara e muitos outros. “Nosso intuito é que brasileiros e estrangeiros conheçam a história e passem a respeitar ainda mais este solo sagrado, onde muito sangue foi derramado e centenas de pessoas anônimas perderam suas vidas”, declarou Helcias.

Para Helcias, um acordo entre a Palmares e a Uneal tornará mais efetivo o fomento ao turismo e a vitalização do parque. “O turismo étnico precisa acontecer regularmente, durante todo ano. A Fundação Palmares está em sintonia com esses objetivos e nossa expectativa é que sejam dadas as condições para que possamos estar juntos, colaborando com o crescimento desse projeto, fazendo com que a Serra da Barriga seja de fato solo sagrado, porém visitado na condição de núcleo cultural e destino turístico”, concluiu.

Texto e Fonte: Assessoria de Comunicação/Ministério da Cultura