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Projeto leva livros às comunidades ribeirinhas

6.9.2018 – 09:52

O menino saiu do rio, mas o rio não saiu dele. Há dez anos, o amapaense Jonas Banhos viaja levando livros para as crianças de comunidades ribeirinhas, reservas extrativistas, indígenas e quilombolas com o projeto Barca das Letras, distribuindo livros, contando histórias, incentivando a leitura e montando bibliotecas. O Projeto ganhou dois prêmios do Ministério da Cultura (MinC), o Tuxaua Cultura Viva, em 2010 e o Prêmio Leitura para Todos: projetos sociais de leitura, em 2014. Em 2017, foi agraciado com a Lei Rouanet.

Jonas Banhos afirma que o apoio do MinC ajudou a ampliar o projeto, proporcionar maior conforto para os voluntários e enviar exemplares pelos Correios. Foto: Divulgação

Nesse período, a Barca visitou cerca de 50 municípios, por volta de 70 comunidades e doou mais de 70 mil livros. “Estimo que já brincamos com mais de 10 mil crianças”, conta Jonas Banhos, autor do projeto. Funcionário público, Jonas saiu da sua terra natal e morou nas capitais do Amapá, do Pará, Ceará, Goiás e hoje está na capital do Brasil.

“Eu nasci na cidade, mas minha família é oriunda de uma comunidade quilombola, Conceição do Macaoari, e minha mãe sempre fez questão de manter esse vínculo. Minha relação com o rio, com a floresta, com a vida em coletivo sempre foi muito forte. Mesmo morando em grandes cidades, sempre estive muito ligado às minhas origens”, relata.

Jonas explica que seus pais sempre incentivaram a leitura e que, quando pequeno, lia gibis e ouvia as histórias nos compactos coloridos de vinil. “Na minha casa a leitura sempre foi muito presente, mas isso não é a realidade das populações que vivem à beira dos rios. Isso me deixava muito triste, quando eu voltava para minha comunidade via tudo estagnado no campo das políticas públicas, parecia que nada tinha saído do lugar, até hoje não tem escola no meu quilombo e eu queria fazer algo diferente”, explica.

E ele fez. Montou a Barca das Letras com livros doados e desceu o rio, em companhia de voluntários do projeto. “Chegamos em algumas comunidades que não tinha nem luz elétrica! Era uma festa. Algumas crianças só tinham visto os livros didáticos. Gibis, livros de literatura infantil, desenhos, poesia, era tudo novidade. Era tanto olhinho brilhando, tanta curiosidade que não cabe em palavras”, relembra o comandante da Barca.

Jonas diz que o apoio do MinC ajudou a ampliar o projeto, comprar livros novos, alugar um barco, proporcionar maior conforto para os voluntários e também a enviar exemplares pelos Correios, além de sair do Amapá e poder visitar outras regiões. Quem comprova o sucesso do projeto é professor Dernival dos Santos Kiriri. Ele é uma das lideranças na Aldeia Cajazeira, Terra Indígena Kiriri, em Banzaê (BA).

“Sempre que a Barca chega na aldeia é pura diversão. A primeira vez foi uma grande surpresa, foram quatro dias de atividades. As crianças nunca tinham visto um livro. Foi tão intenso que quando a Barca voltou, no ano seguinte, as crianças sozinhas preparam um presente para o Jonas, elas contaram uma história para ele. Foi muita emoção, para todos”, lembra o Kiriri. A Barca, que também navega pelo Sertão, visita a aldeia desde 2012. Atualmente, a escola da aldeia, Índio Feliz, possui uma biblioteca com aproximadamente cinco mil títulos.

 

Trocas de experiências

Jonas fala da sua alegria com o que recebe. “É uma grande troca, a gente leva livros e eles nos presenteiam com a vivacidade que só as crianças que vivem livres têm. O rio, a mata são um grande quintal, eles conhecem e reverenciam a natureza e nos ensinam sobre isso, também nos falam sobre as plantas medicinais, são ouvintes atentos e muitos respeitosos com os mais velhos. Não ganhamos dinheiro nenhum com esse trabalho, mas recebemos muito afeto, amorosidade. Esse é o nosso combustível”, compara.

Pais, mães, tios, avós, toda a família também participa e acompanha as crianças nas dinâmicas que viram uma atividade para todos. Por isso, a barca também recebe doações de livros para adultos, embora o foco sejam os pequenos. “Tive um caso muito interessante, do Seu Martinho, um senhor que não teve acesso à escola, mas que é muito culto e adora ler. Ele mora na foz do rio Macacoari, ‘esquina’ com o rio Amazonas, onde só se chega de barco. Muito católico, ele queria ler um tal de Nietzsche que negava Deus. Comprei ‘Assim Falava Zaratustra’ num sebo e mandei para ele”, conta. Seu Martinho ajuda a Barca desde 2008, tanto na sua comunidade como na organização das atividades nas regiões vizinhas.

“Algumas crianças nasceram dentro do Projeto, algumas já estão na faculdade, outras já são pais e mães em suas comunidades e são leitores e incentivadores da leitura. Esse era um dos nossos sonhos, multiplicar o gosto pela leitura”, afirma. Quando perguntado se pretende parar, Jonas simplesmente responde que “navegar é preciso”, parafraseando Fernando Pessoa.

A Barca das Letras teve aprovação da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) e está recebendo doações de pessoas físicas e patrocínio de empresas pela Lei Rouanet. Interessados em colaborar podem entrar em contato pelo telefone (61) 98355 7232 e pelo e-mail barcadasletras@gmail.com.

 

Agenda

A Barca tem agenda fechada até dezembro. Confira o calendário aqui.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação / Ministério da Cultura

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Indígenas e quilombolas recebem formação de gestores culturais

18.8.2017 – 14:25

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A primeira turma dos cursos se reuniu na aldeia do krahôs, em Itacajá, com a presença de cerca de 60 indígenas em dois dias de atividades (Foto: Divulgação)

Comunidades indígenas e quilombolas do Tocantins vão participar de cursos presenciais do Programa Nacional de Formação de Gestores e Conselheiros Culturais. Realizadas pelo Ministério da Cultura (MinC) em parceria com a Universidade Federal do Tocantins (UFT), as aulas visam qualificar lideranças para a construção e gestão de sistemas municipais de cultura, que incluem plano, conselho, conferência e sistema de financiamento da cultura, com a criação de fundos municipais.

O objetivo dos cursos é preparar lideranças das comunidades quilombolas e indígenas para disseminar conhecimento entre os demais integrantes. Nas aulas, são entregues, além de apostilas com o conteúdo do curso, um guia de para elaboração dos planos municipais de cultura, que trazem metas a serem atingidas no campo cultural.

“Os cursos visam qualificar essas comunidades, o que permitirá uma articulação mais efetiva com os gestores municipais para fortalecimento dos instrumentos de gestão dos sistemas municipais de cultura”, destaca a coordenadora de Assistência Técnica aos Entes Federados e ao Programa de Formação de Gestores Culturais do MinC, Luísa Galiza.

A primeira turma dos cursos se reuniu na aldeia do krahôs, em Itacajá, nos dias 12 e 13 de agosto, com a presença de cerca de 60 indígenas em dois dias de atividades. Os indígenas, segundo Luísa Galiza, demonstraram interesse em participar da definição das políticas públicas municipais, integrar os conselhos municipais de cultura e discutir os planos municipais de cultura. “Isso possibilita a aproximação da comunidade com as prefeituras municipais e a criação de instrumentos de valorização da cultura indígena”, argumentou.

Próximos cursos

No fim da próxima semana, serão realizados encontros com as comunidades quilombolas de Malhadinha e Barra do Aroeira, nos dias 24 e 25 de agosto. Na sequência, virá a aldeia dos xerentes, dias 25 e 26 de agosto. E de 11 a 16 de setembro, serão contempladas as aldeias dos karajás e dos krahôs de Araguatins e os quilombolas de Araguaína e Apinajés.

Também serão realizados cursos nas aldeias dos karajás e dos javaés, na Ilha do Bananal, de 20 a 24 de setembro. E a comunidade quilombola do Jalapão será contemplada entre 16 e 21 de outubro. Todas as comunidades receberão pelos menos duas visitas de treinamento.

Até o momento, 18 estados já foram contemplados com ações do Programa Nacional de Formação de Gestores e Conselheiros Culturais, vinculado à Secretaria de Articulação e Desenvolvimento Institucional do Ministério da Cultura.

Texto e Fonte: Assessoria de Comunicação/Ministério da Cultura

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Acordo prevê instalação de 167 antenas para levar banda larga às comunidades indígenas, quilombolas e rurais

Os ministérios da Cultura (MinC) e das Comunicações (MiniCom) assinaram nesta sexta-feira (17) acordo de cooperação que prevê a instalação de 167 antenas que vão garantir o acesso a internet em banda larga em comunidades indígenas, quilombolas e rurais. O programa Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac) oferece a conexão, de forma gratuita, por via terrestre e satélite, a comunidades em estado de vulnerabilidade social em todo o Brasil.

A reivindicação do acesso à banda larga e à comunicação em aldeias é antiga. O diálogo para efetivar o projeto começou em 2006, ainda na gestão de Gilberto Gil, com um acordo firmado entre o MinC e o MiniCom, que resultou na instalação de um conjunto de antenas em diversas áreas e regiões, indígenas e não indígenas, das quais 19 estão em funcionamento.

“Existe uma demanda grande de conexão dos Pontos de Cultura e das aldeias indígenas, que querem produzir sua própria mídia. Isso vem se fortalecendo. É uma ferramenta decisiva para que os grupos indígenas possam se comunicar, se articular, fazer suas reivindicações. É um momento muito feliz a retomada desse projeto”, destaca a secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, Ivana Bentes.

O secretário de Inclusão Digital do MiniCom, Jéferson D’Avila, afirmou que possibilitar o acesso à internet em comunidades rurais, quilombolas e indígenas é um dos desafios do órgão. “Esta parceria com o Ministério da Cultura é essencial e complementar para suprir demandas reprimidas desses grupos e proporcionar uma vida mais digna às pessoas. As pesquisas mostram que, com a inclusão digital, os indicadores sociais também crescem. É essencial que possamos trabalhar juntos nesse processo”.

O cacique Álvaro Tukano, diretor do Memorial dos Povos Indígenas de Brasília, ressaltou que o acesso às redes digitais e o protagonismo dos povos indígenas na condução das políticas públicas são essenciais. “Essa disputa pelas antenas GESAC mostra isso”, observou.

Além da instalação das antenas, o termo assinado prevê ainda o fortalecimento de ações de inclusão digital com os povos indígenas e os Pontos e Pontões de Cultura.

Fonte: Assessoria de Comunicação/Ministério da Cultura