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Planejado como um conjunto urbano abrangente e sustentável a partir de uma colônia agropecuária, localizada no noroeste de Minas Gerais, o projeto da Cidade Marina foi lançado por Niemeyer meses antes do início da construção de Brasília, em meados de 1956. Apesar de não ter saído do papel devido a disputas de terras e entraves políticos, o conceito da cidade acompanha a pulsão criadora de Niemeyer e o paradigma de desenvolvimento que vigorava na época.

A pesquisa desenvolvida por Gabriel Túlio de Oliveira Barbosa, por meio do Programa de Apoio à Pesquisa da Biblioteca Nacional, visa a rastrear o percurso histórico de um dos projetos mais audaciosos elaborados por Oscar Niemeyer (1907-2012). Em meados dos anos 1950, a transferência da capital do Brasil do litoral para o interior do país mobilizou esforços e, fundamentalmente, investimentos na região do entorno do Planalto Central. Distante pouco mais de 200 km de onde seria construída Brasília e encravada nos ermos do chapadão do Urucuia – paisagem eternizada pela literatura de João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas – a Cidade Marina foi idealizada não simplesmente como um cinturão para o abastecimento agrícola para a nova capital federal, mas como uma cidade humanista e autossustentável na região. O projeto, única cidade integralmente planejada por Oscar Niemeyer para o país, ainda previa o paisagismo de Roberto Burle Marx, o projeto de irrigação por Luigi Galiolli e execução do engenheiro Paulo Peltier de Queiroz.

Para uma imersão no passado e nas entrelinhas desse projeto utópico, ainda desconhecido entre pesquisadores brasileiros, a pesquisa de Gabriel de Oliveira apresenta uma possibilidade original de investigação a partir de profunda interação com o acervo da Biblioteca Nacional. O trabalho abrange uma busca pelos mais importantes periódicos armazenados na FBN, cujo conteúdo se apresenta, até então, como uma das poucas fontes documentais para a pesquisa relacionada à Cidade de Marina.

Essas fontes, exclusivas da Hemeroteca Digital da FBN, revelam a grande repercussão nacional em torno do projeto da cidade, contando com envolvimento direto de Oscar Niemeyer e de outras figuras políticas, como o próprio presidente da república Juscelino Kubitschek. Apesar de o projeto não ter saído do papel, o capital político envolvido na proposta e o amplo apoio de investimentos privados refletem os paradigmas de desenvolvimento e as contradições para a construção de uma identidade modernizadora para o país em meados do século XX.

A pesquisa surge como um dos desdobramentos da tese de doutorado Corpos em Baile: giros da literatura, giros do afeto nos Gerais, defendida por Gabriel de Oliveira em 2018 no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Premiada como a melhor tese do Programa e com Menção Honrosa no grupo de Grandes Áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, o estudo foi base para a publicação do livro “Giro dos Afetos: a literatura rosiana no meio do redemoinho”, em 2019, pela Editora Letramento.

Gabriel de Oliveira é mestre e doutor em Geografia pela UFMG, onde aprofundou sua pesquisa sobre a labiríntica interação existente entre a obra do escritor Guimarães Rosa e a geografia dos Gerais. Foi professor do Centro de Excelência em Turismo (CET) na Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Núcleo de Políticas Públicas em Turismo (CNPq). É também colaborador de projetos socioculturais no norte mineiro, pesquisador, documentarista e produtor cultural. Graduado em Turismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009), atua com temas ligados à geografia e literatura, patrimônio cultural, turismo de base territorial e os “saberes e fazeres” no sertão de Minas Gerais.

Currículo Lattes –  http://lattes.cnpq.br/9396430813594125

Fonte- Fundação Biblioteca Nacional