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Editais lançados em 2018 premiaram 25 iniciativas inéditas de livros e 35 de audiovisual, entre séries, longas-metragens e documentários

(publicado: 16/01/2019 15h59, última modificação: 21/01/2019 17h21)

Livro de Bruno Gaudêncio terá como personagem principal o pintor Pedro Américo, autor do emblemático quadro O Grito do Ipiranga ou Independência ou Morte (Foto: Reprodução)

A Independência do Brasil, que completa 200 anos em 2022, será retratada em obras literárias e audiovisuais com apoio da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania. Em 2018, dois editais – Incentivo à Publicação Literária e Desenvolvimento de Projetos – 200 anos da Independência do Brasil – selecionaram 25 livros e 35 longas-metragens, documentários ou séries para receber recursos para sua produção. Cada um dos livros vencedores recebeu R$ 40 mil e cada obra audiovisual, R$ 100 mil (documental) ou R$ 200 mil (ficção).

O historiador Bruno Gaudêncio, de Campina Grande (PB), foi um dos selecionados no edital de Incentivo à Produção Literária. Doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é professor de História da Rede Estadual de Ensino e autor de 15 livros de poesias, contos, ensaios e roteiro de quadrinhos.

A obra de Gaudêncio enfoca a personalidade responsável pelo que se tem, até hoje, de imagem coletiva do ato da independência, o também paraibano Pedro Américo, autor do emblemático quadro O Grito do Ipiranga ou Independência ou Morte. A pintura, de 1888, retrata Dom Pedro I em cima de um cavalo, seguido por vários cavaleiros. A obra integra o acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, atualmente fechado para visitação.

Voltado ao público infantil e juvenil, o livro vai misturar ficção com realidade. “A história é ambientada em três tempos. No ano que Pedro Américo pintou o Grito do Ipiranga, que é 1888, ele encontra um amigo, que lhe proporciona viajar no tempo para 1822, ano da independência, e para 2022, ano do bicentenário”, explica o autor.

Gaudêncio destaca que editais como este estimulam a produção de livros e dão oportunidade a profissionais de regiões como o Nordeste, que nem sempre estão na mira das editoras. Desde o anúncio do resultado do prêmio, conta, já foi procurado por algumas editoras interessadas em publicar a obra. Ele estima que, antes do meio do ano, o livro estará publicado.

Também vencedora do edital de Incentivo à Produção Literária, a escritora Adelice Souza destacou em sua obra a participação da Bahia na Independência do Brasil, em especial as mulheres e o povo miscigenado. “Brancos e meninos bem nascidos não foram guerrear pela libertação do Brasil de Portugal. A guerra foi feita por caboclos, por índios, que queriam a sua própria independência, e por escravos que, ao participarem da guerra, recebiam dos seus senhores o aval, a carta de alforria. Então, muitos negros escravizados participaram da guerra para serem libertados”, destaca a escritora.

Doutora em Artes Cênicas pela Universidade Federal (UFBA), Adelice é dramaturga, diretora teatral, arte-educadora e instrutora de ioga. Já publicou oito livros, entre romances, contos e peças de teatro, além de ter participado em coletâneas.

Em formato de romance que mescla história e ficção, a história de Adelice vai ressaltar a ação de três personagens verídicas: Maria Quitéria (que se vestiu de homem para lutar pela independência); Joana Angélica (religiosa, considerada mártir da Independência pela resistência à invasão das tropas portuguesas ao Convento da Lapa, em Salvador) e Maria Felipa (pescadora negra que contribuiu para o ataque contra portuguesas como informante).

“Para nós, baianos, a independência não chegou em 1822. Chegou em 1823, em 2 de julho, com a independência da Bahia. Eu fiz a narrativa em cima do conceito de que a independência da Bahia é uma parte importantíssima da independência do Brasil. A criação da autora parte da história de uma cabocla que interfere na vida pessoal dessas três mulheres que acabam sendo figuras preponderantes desta guerra.

Bicentenário no audiovisual

A produtora cultural Tati Mendes é uma das cabeças por trás do longa-metragem De Amor e Liberdade – Um Brasil Tardio. Com direção do cineasta Amaury Tangará e roteiro de Sônia Rodrigues, o projeto foi um dos vencedores do edital Desenvolvimento de Projetos – 200 anos da Independência do Brasil.

O longa-metragem conta uma história de amor tendo como cenário a Rusga de Mato Grosso, um conflito armado que fez parte do processo de independência do País e culminou com a morte de 400 portugueses em uma única noite. “A luta durou uma noite e nós a chamamos de a Noite de São Bartolomeu de Cuiabá”, conta a produtora, referindo-se a evento ocorrido em 1572 em que católicos franceses massacraram cerca de 3 mil protestantes.

De acordo com a produtora, a ideia é captar recursos também em Portugal, local no qual deverão ser realizadas algumas filmagens. “O filme é baseado em fato real muito pouco explorado pelos livros de história, mas que tem documentação. Nós descobrimos que em Portugal tem mais relatos da Rusga do que aqui no Brasil”, conta.

Para Tati Mendes, a ideia de criar um edital de fomento a projetos é uma oportunidade de o País poder conhecer sua própria história. “Com certeza, o edital deve trazer roteiros incríveis, já que a história do Brasil é riquíssima em todos os estados. Para nós, é uma chance única de contar um episódio tão interessante para o País”, destacou.

Outro projeto selecionado no edital Desenvolvimento de Projetos – 200 anos da Independência do Brasil é o da Super8Prod, de Porto Alegre (RS). A empresa vai produzir a série de animação A Animalesca História da Independência, voltado a adultos e de comédia, na qual todos os personagens são animais. O protagonista é próprio Brasil, representado por uma jaguatirica.

 A série A Animalesca História da Independência foi um dos projetos premiados no edital Desenvolvimento de Projetos – 200 anos da Independência do Brasil (Foto: Reprodução)

A ideia, de acordo com o criador e roteirista Gustavo Magnani, é toda em cima do narrador, que conta a história da independência em cinco partes. “Cansado da forma como conhecemos a independência, os mesmos heróis, as mesmas histórias, ele (Brasil) tenta contar a própria biografia. Obviamente enviesado, como um narrador sempre é, ainda mais contando sua própria história tendo os personagens como animais”, afirma.

Realizador estreante, Magnani viu no edital de 200 anos uma oportunidade “genuinamente” inovadora. “Sem nenhum exagero. Eu, que já participei de uma série de editais, nunca tinha visto editais com tantas oportunidades para diretores, realizadores estreantes, mulheres, negros, indígenas e de regiões normalmente não contempladas. O ano de 2018 foi um dos melhores para o audiovisual no Brasil. Eu sou uma dessas pessoas que continuaria trabalhando, é claro, mas com esse edital tudo ficou melhor”, declarou.

Secretaria Especial da Cultura
Ministério da Cidadania