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16.11.2018 – 13:05

Crianças e adolescentes de hoje falam e vivem o tempo todo ligados à cultura digital. Para desenvolver neles o hábito da leitura e o amor à literatura sem desapegar de recursos tecnológicos, a ONG Casa da Árvore tem conseguido atrair estudantes de escolas públicas para realizar atividades que unem o aprendizado de tecnologias digitais ao estímulo à leitura na cidade de Poços de Caldas, a cerca de 450 km da capital mineira Belo Horizonte.

Em torno de 900 crianças e adolescentes, entre 9 e 19 anos, participam do conjunto de atividades da ONG Casa da Árvore. Foto: Divulgação

Desde 2016, a ONG tem conseguido manter suas atividades participando e conquistando prêmios e apoio de entidades públicas e privadas. Em 2016, com o projeto BiblioArte LAB, a Casa da Árvore concorreu com 174 propostas de 11 países e foi uma das três iniciativas brasileiras premiados com US$ 21 mil (o equivalente, à época, a R$ 76 mil) pelo 4º Concurso de Ajudas do Programa Ibero-Americano de Bibliotecas Públicas (Iberbibliotecas).

O Brasil é representado no Iberbibliotecas pelo Ministério da Cultura (MinC), por meio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), que integra o Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas. Além do Brasil, compõem o Iberbibliotecas: Chile, Colômbia, Costa Rica, Espanha, México, Paraguai e as cidades de Buenos Aires (Argentina) e Medellín (Colômbia).

O Programa recebe investimento brasileiro anual de cerca de US$ 90 mil e tem como objetivo consolidar as bibliotecas públicas como espaços de livre acesso à informação e à leitura, de trabalhar pela inclusão social e de contribuir para a qualificação da educação e do desenvolvimento.  Com o prêmio, o projeto BiblioArte LAB passou a realizar ações não apenas na Biblioteca Municipal Centenário, como em mais 12 bibliotecas escolares de instituições de ensino estaduais e municipais em Poços de Caldas.

De acordo com o designer de inovação e cofundador da Casa da Árvore, Aluísio Cavalcante, em torno de 900 crianças e adolescentes, entre 9 e 19 anos, participaram do conjunto de atividades, incluindo o uso de robótica, produção de vídeos, de gifs, matérias em áudio, vídeo e reportagens para um canal no YouTube e para uma revista.

 

Produção

No Lab Robótica Poética, 18 jovens criaram uma espécie de um jogo de videogame, com um tabuleiro e personagens movimentados por um joystick. A história de fundo escolhida foi o clássico de Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe. Os personagens da obra são os mesmo do jogo que se movem de um planeta para outro e tem missões a cumprir.

Outro exemplo de trabalho desenvolvido no laboratório foi o de “booktubers”. Cerca de 60 jovens leitores criaram canais ou produziram conteúdos no YouTube com gravações sobre os livros que leram e com sugestões de leitura.

Um grupo de cerca de 20 estudantes criou o que chamaram de “Gifs literários”. Eles aprenderam nas oficinas a criar uma campanha e uma série de gifs (da sigla em inglês para Graphics Interchange Format ou formato de intercâmbio de gráficos, em tradução livre, que são imagens fixas ou em movimento usadas para passar alguma mensagem). Os jovens usaram esse recurso para tratar do tema “desigualdade de gênero na leitura”. Um exemplo disso é a necessidade de escritoras usarem pseudônimos masculinos para publicarem, o estereótipo de personagens femininos e a diferença da quantidade entre autores e autores, entre outros temas.

Também foram desenvolvidos por outros alunos mapas digitais com referências poéticas. Foram realizadas oficinas com cerca de 70 crianças, entre 9 e 11 anos, em duas bibliotecas escolares e em uma biblioteca municipal.  Eles aprenderam sobre cartografia e levaram para dentro das bibliotecas a voz de parentes mais velhos, gravados em áudio e em vídeo ou ainda em textos ou desenhos, com relatos a respeito de lembranças que tinham de uma biblioteca e a relação deles com literatura. “A avó de um deles, por exemplo, lembrava que conheceu (a escritora) Cecília Meirelles na rua tal e o neto colocou isso no mapa de lembranças literárias”, exemplifica Cavalcante.

 

Laboratório

Em outra iniciativa, o Laboratório Viral da história, cerca de 50 alunos foram estimulados a criar perfis fictícios em redes sociais com personagens inspirados na literatura. Para poder compor os perfis, os leitores acabavam mergulhando na leitura e, ao mesmo tempo, aprendendo o uso de técnicas de mídias sociais.

Cerca de 60 jovens leitores viraram “booktubers”, produzindo conteúdos no YouTube sobre os livros que leram e com sugestões de leitura. Foto: Divulgação

A ideia, segundo Cavalcante, é formar influenciadores digitais mirins que instiguem pessoas da mesma idade a ler também. “Com esta programação, aumentou em 60% o público de jovens na biblioteca (Municipal Centenário). O número dos já leitores aumentou em quase 35% naqueles que fazem leitura literária sem obrigação”, comemorou.

“Outro indicador importante é que aumentou o nível de letramento digital dos alunos. Eles passaram a ser mais críticos no que leem, a entender como funciona os processos de construção da informação digital”, destacou.

Além disso, os alunos produziram conteúdo sobre leitura, comportamento, resenhas de livro e ensaios sobre literatura para a Revista Página 9 ¾ e para o canal na internet com o mesmo nome. A ideia central de todo o conjunto de ações da ONG é atrair leitores para dentro das bibliotecas, ampliar as habilidades deles em outras linguagens e articular com essas atividades uma rede de jovens influenciadores de leitura.

Esse conjunto de trabalhos da ONG foi finalista na categoria Inovação em Formação de Leitores do Prêmio Jabuti, na edição deste ano – um dos mais tradicionais prêmios literários do Brasil. “Ter sido finalista do Jabuti 2018 comprova o reconhecimento nacional de um projeto apoiado pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas”, ressalta coordenadora do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do Ministério da Cultura, Ana Maria da Costa Souza.

A atuação do laboratório comunitário de inovação em leitura e formação de leitores, desenvolvido pela ONG, também está entre os finalistas do Prêmio IPL – Retratos da Leitura do Instituto Pró-Livro (IPL), criado pela Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Com três anos de existência, o laboratório da Casa da Árvore promoveu impacto social na Biblioteca Municipal Centenário e contribuiu para transformações de outras 12 bibliotecas, entre escolares e públicas. “Ganhar o Iberbibliotecas e ser indicado para esses prêmios nacionais são uma oportunidade de a gente levantar algumas discussões, incluir a gente neste mapa internacional, verificar que temos desafios comuns e mostrar que tem inovação sendo feita no interior do Brasil”, avaliou Cavalcante.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação / Ministério da Cultura