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26.10.2018 – 15:32

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), premiou nesta quinta-feira (25) pesquisadores da área da arqueologia. Um dos maiores reconhecimentos científicos da arqueologia, o Prêmio Luiz Castro Faria, que está em sua 6ª edição, leva o nome de um dos maiores arqueólogos brasileiros.

Ex-diretor do Museu Nacional, Castro Faria foi um dos principais criadores da Lei 3924/1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos e todos os elementos que neles se encontram. O evento marcou o final da semana de arqueologia, que trouxe uma série de conferências, palestras e debates.

Na avaliação da presidente do Iphan, Kátia Bogéa, a arqueologia brasileira tem muitos motivos para comemorar. “Os trabalhos apresentados pela academia para o Prêmio, pelas universidades e pelos pesquisadores é de altíssimo nível. Este ano a profissão de arqueólogo foi regulamentada (Lei 13.653/2018), o que é uma vitória”, disse.

Kátia destacou o Seminário de Licenciamento ambiental, que abriu as comemorações da semana de arqueologia. “Realizamos um encontro para discutir arqueologia para além do universo acadêmico, que é a chamada arqueologia de contrato, aquela relacionadas aos processos de licenciamento ambiental. O Iphan, como órgão interveniente do licenciamento ambiental junto às instituições do meio ambiente, vem realizando um trabalho cada vez mais organizado, normatizado, colocando a arqueologia e, consequentemente, a proteção do patrimônio arqueológico brasileiro ordenada. Dando cada vez mais significado e seriedade ao campo da arqueologia no Brasil e na comunidade acadêmica internacional”, afirmou.

 

Premiados  

Dividido nas categorias Artigo Científico, Mestrado e Doutorado, o Prêmio Luiz Castro Farias selecionou os artigos Maneta e Josefa no prédio da loucura: uma arqueologia dos espaços manicomiais, de autoria de Juliana Maria Brandão Moreira; a Documentação fotográfica técnica e cientifica de pinturas rupestres: A fotografia digital como ferramenta de estudos e preservação em arqueologia, de autoria de Alexandre Oliveira Costa com coautoria de Alexandre Cruz Leão e Luiz Antônio Cruz Souza.

Lorena Garcia foi uma das vencedoras da categoria Doutorado, com o trabalho Paisagens do médio-baixo Xingu: arqueologia, temporalidade e historicidade. Foto: Clara Angeleas (Ascom/MinC)

Além disso, foram premiados a monografia Contextualização espacial histórica e tecnológica dos muiraquitâs amazônicos, de autoria de Anderson Márcio Amaral Lima; a dissertação (categoria Mestrado) escolhida foi Ontem Lenha Hoje Carvão; análise antracológica do holoceno inicial e médio da Toca do Boqueirão da Pedra Furada (Piauí-Brasil): paisagem, paleoambiente e paleoetnobotânica, de autoria de Leidiana Alves da Mota.

A pesquisadora Lorena Garcia foi a vencedora do prêmio na categoria Doutorado, com o trabalho Paisagens do médio-baixo Xingu: arqueologia, temporalidade e historicidade. Fruto de uma pesquisa que teve início em 2012, a pesquisadora desenvolveu um trabalho de arqueologia na terra indígena Koatinemo com o povo Asurini, no médio-baixo Xingu, situada, em sua maior parte, no município de Altamira.

O trabalho de levantamento arqueológico na terra indígena contou com a participação direta dos Asurini. “Ao longo da pesquisa identificamos vários sítios, a partir do objetivo inicial de voltar às antigas aldeias do povo Asurini. Os Asurini tiveram o primeiro contato oficial, relativamente recente. Foi em 1971, durante a construção da rodovia Transamazônica. Os mais velhos têm na memória a lembranças das antigas aldeias, que eram anteriores ao contato com a sociedade nacional”, explicou.

De acordo com Lorena, os sítios arqueológicos encontrados a partir da pesquisa em conjunto com o projeto Territórios e Memórias Asurini do Xingu, coordenado pela professora Fabíola Andrea Silva – que orientou a pesquisa desenvolvida por Lorena – foram surpreendentes. “Visitamos as antigas aldeias. Na Amazônia é muito comum que as aldeias contem ainda com vestígios de ocupações ainda mais antigas. Nesse trabalho, identificamos sítios arqueológicos que contam a história deles e sítios mais antigos, pré-coloniais”, destacou.

Na avaliação de Lorena, o prêmio é um reconhecimento incrível, não somente pelo contexto atual no qual as populações indígenas e pesquisadores encontram-se cada vez mais ameaçados, mas para o fortalecimento da arqueologia. “Estamos vivendo uma fase de pensar uma arqueologia que dialoga com esses outros conhecimentos, epistemologias e novas formas de entender o registro arqueológico, que até então só era explicado pelos arqueólogos. Nesse sentido o prêmio vem até mesmo como uma forma de respeitar essas outras formas de conhecer, outras filosofias de vida. Não resta dúvida de que esse reconhecimento é também um passo muito importante para mim, como arqueóloga”, pontuou.

 

Exposição

A programação da semana de arqueologia contou ainda com a palestra da pesquisadora Tânia Andrade Lima, que coordenou o processo de escavação do Cais do Valongo – reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), no ano passado.

Ao final, o Iphan inaugurou a exposição Coleção Arqueológica Pe. João Alfredo Rohr em Brasília, que traz ao público peças coletadas pelo padre jesuíta ao longo de 40 anos de trabalho. Composto por pedras, pontas de flechas esculpidas em pedra e em quartzo hialino – uma espécie de cristal – além de outros objetos utilizados pelos povos que habitavam a região do Distrito Federal entre 6.500 e 11 mil anos doadas. A coleção foi tombada pelo Iphan em 1986 e constitui o acervo do Museu do Homem do Sambaqui, em Florianópolis, Santa Catarina, instituição criada por ele, em 1964, e da qual foi o seu primeiro diretor.

 

SERVIÇO
Exposição: Coleção Arqueológica Pe. João Alfredo Rohr
Local: SEPS Quadra 713/913, Bloco D, Edifício Iphan – Brasília/DF
Visitação: Segunda a sexta, das 8h às 18h.
Visita guiada com escolas: Centro Nacional de Arquivologia (61) 2024.6307

 

Fonte: Assessoria de Comunicação / Ministério da Cultura