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25.10.2018 – 10:15

Tombada em 2005 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) como patrimônio histórico do Rio de Janeiro (RJ), a sala Cecília Meirelles é um dos principais espaços da música clássica da cidade. Entre 2012 e 2015, o edifício passou por ampla reforma, que previu a modernização de todos os espaços. Para tanto, a Associação de Amigos da Sala Cecília Meirelles contou com o apoio da Lei Rouanet, por meio da qual conseguiu captar R$ 20 milhões. Desde sua construção, em 1896, o prédio havia passado apenas por duas grandes reformas, uma em 1939, e outra em 1989, quando um laudo técnico avaliou a necessidade de reforço de toda a estrutura.

Reforma da Sala Cecília Meirelles valorizou a acústica e adequou o espaço para as exigências de segurança. Foto: Divulgação

“Apesar de ter passado por reformas anteriores, a Sala exigia uma revisão em toda a sua estrutura que estava desgastada e certamente ficaria comprometida num futuro próximo. Através das leis de incentivo federal e estadual financiamos cerca de 87% do valor total da obra. A Lei Rouanet foi fundamental para que o BNDES e a Petrobras – maiores patrocinadores da reforma – concretizassem as parcerias que viabilizaram a obra. O Governo do Estado do Rio de Janeiro através de sua Secretaria de Cultural responsabilizou-se pelo restante dos recursos através da compra de material e equipamentos”, afirma João Guilherme Ripper, maestro e diretor da Sala à época da reforma.

O prédio que hoje abriga a Sala teve várias funções. Foi edificado para ser uma confeitaria, o Armazém do Romão, mas logo viria a ser transformado no Hotel do Império, localidade que abrigou hóspedes ilustres, como fazendeiros e políticos da República Velha. Em meados do século passado, despertaria para sua vocação cultural, abrigando o Cine Colonial entre as décadas de 30 e 50. Apenas em 1965, no dia 1º de dezembro, foi inaugurada a Casa Cecília Meirelles, dedicada à música.

A Sala integra o chamado Corredor Cultural do bairro da Lapa, região boêmia do centro da cidade, próximo a outros monumentos históricos como a Fundição Progresso, o Automóvel Club do Brasil e o Lampadário do Largo da Lapa. Dedicado à música de câmara e concertos, e à difusão de todos os estilos musicais, o espaço tem capacidade de 835 lugares. Anexo à Sala Cecília Meireles, o Auditório Guiomar Novaes tem 154 lugares e é utilizado, principalmente, para pequenos recitais e palestras.

De acordo com Nelson Freitas, presidente da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), responsável pelo espaço, “a sala cumpre um papel único, de formação e informação para o público de música erudita do Rio de Janeiro. A curadoria singular, e vale ressaltar aqui o papel do diretor Miguel Proença, proporciona o acesso do público a jovens concertistas de renome, inclusive internacionais”.

 

Espaço foi adequado para ter mais acessibilidade e comodidade ao público. Foto: Divulgação

Acessibilidade e Acústica 

Nelson Freitas destaca que a acústica da Sala é de altíssima qualidade. Tanto que a Funarj está elaborando projeto, com valor aproximado de R$ 1 milhão, para implantar um sistema de gravação de áudio e vídeo, por meio do Fundo Nacional de Cultura, um dos mecanismos da Lei Rouanet. “A acústica da sala é tão incrível que estamos tentando implantar um sistema de gravação de áudio e vídeo, tanto pela qualidade de seu registro sonoro, quanto visual. Esse é um legado que podemos deixar.”A modernização acústica do ambiente foi o ponto principal da reforma, ao priorizar o uso de materiais e formas que tornassem a Sala a mais adequada possível à escuta musical. Foram retirados os plissados que interferiam no palco e o teto ganhou estruturas de madeira em forma de ondas, para ajudar na amplificação do som. Na avaliação das estruturas propostas, foram feitos diversos testes com músicos da Orquestra Petrobras Sinfônica e com a equipe do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

Outro ponto importante da obra foi adaptar as instalações da Sala com itens de acessibilidade. Os três andares ganharam rampas e elevadores e todos os banheiros foram ajustados para cadeirantes. A antiga bomboniére, situada no primeiro andar, e o Café da Sala, transferido para o segundo piso, também foram reformados, para propiciar mais conforto e comodidade ao público.

Foto: Divulgação

Uma das principais marcas do local, o painel modernista que compõe o fundo do palco foi preservado. O foyer recebeu obra do artista plástico Marcos Chaves, que criou uma paisagem montada com fotos do Rio. “Fotografo muito a cidade e criei esta obra especialmente para a Sala, que fica no coração do Rio”, conta o artista.

O prédio anexo à Sala ganhou uma sala multiuso, com o Espaço Guiomar Novaes, com cabine de som e luz, que funciona como auditório para palestras, camarim para orquestras, espaço de ensaio para apresentações, além de também receber recitais de menor porte. A administração da Sala também se encontra neste edifício, que ainda possui uma sala de estudos isolada.

Assim como nas reformas que ocorreram ao longo da história do edifício, a fachada original se manteve preservada, enquanto a fachada lateral, remanescente do Grande Hotel, foi resgatada. Para tanto, um cuidadoso trabalho de restauro ocorreu, para não modificar as características originais do prédio. Um desafio foi a total ausência de registros arquitetônicos da época da construção do edifício.

“Tornamos a Sala mais acessível através da implantação de rampas, pisos táteis e elevadores para portadores de deficiência; ampliamos o hall de entrada que era desproporcional ao número de lugares na plateia; corrigimos alguns parâmetros da acústica – que já era excelente! – tornando a Sala referência em palco para a música de câmara no Brasil”, conclui João Ripper.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação / Ministério da Cultura